segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Reflexões sobre a proposta de trabalho de Jean Itard com o menino Victor
Fiquei sabendo da história do menino Victor através da interdisciplinar Educação de Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais e agora através da interdisciplina Língua Brasileira de Sinais, confesso que me emocionei demais, porque justamente uma pessoa desprovida de um dos 5 sentidos sofreu tanto.
Neste link está postado a história de Victor em meu Dossiê sobre alunos com necessidades especiais http://selvagem.pbworks.com/
Victor sofreu tanto... fico pensando no lado emocional dele, o quanto ficou abalado por tamanha crueldade, vinda de pessoas como seus pais, que deveriam lhe dar segurança, segurar suas mãozinhas e dizer: Filho estamos aqui, pode confiar! Ao invés disso o que recebeu? Facadas, pela ignorância da espécie humana que costuma ser discriminatória e desumana.
Preferível mesmo que ele tivesse ficado na floresta a ser maltratado por quem quer que seja. Jean Itard foi o anjo da guarda de Victor por algum tempo com o seu trabalho
“Adepto das idéias filosóficas de Condillac, Itard acreditava na educação como
principal vetor de desenvolvimento da humanidade. Partindo do princípio de que tudo
que o homem sabe ele o aprende, Itard acreditou que a educação poderia integrar Victor
no convívio social. A convicção filosófica de Itard permitiu que ele embarcasse nesse
empreendimento educativo com Victor, afrontando a teoria das idéias inatas e
contrariando importantes intelectuais de sua época, tais como Sicard e Pinel, que ao
avaliarem Victor após sua chegada em Paris, desacreditaram-no em sua educabilidade,
pressupondo uma “idiotia congênita”.
“O homem torna-se humano nas e pelas relações com outros homens: o início da
educação de Victor”
Com base principalmente nas idéias de Condillac, filósofo sensualista, Itard
estabeleceu cinco metas para seu programa pedagógico, todas elas envolvendo a sensação
e a percepção como vias para trabalhar os aspectos cognitivos e afetivos de Victor. Para
elaborar seu plano de trabalho, Itard foi incansável em suas observações até determinar
quais passos seguiria com Victor. Segundo Lane (1986), ele determinou os componentes
mais importantes das dificuldades de Victor – sensorial, motivacional, verbal – e os
classificou em áreas que iria tratar com uma determinada ordem, começando pela
atividade sensorial e seguindo até a linguagem e o pensamento abstrato.
primeira meta, “interessá-lo pela vida social, tornando-a mais amena do que aquela que ele então levava, e sobretudo mais análoga à vida que acabava de deixar”.
segunda meta: “despertar a sensibilidade nervosa com os mais enérgicos estimulantes e algumas vezes com as vivas afeições da alma
Itard diria ainda que “um grande vício da educação é crer que ela deva ser a mesma para todos os indivíduos. Ela deveria ser tão variável como é o espírito humano nas suas modificações e à época de seu desenvolvimento” (ITARD, 1802, p. 466).
A terceira meta que Itard propôs-se a atingir na educação com Victor foi “ampliar a esfera de suas idéias dando-lhes necessidades novas e multiplicando suas relações com os seres que o circundam.”
Outra contestação que Itard se via compelido a responder era: se Victor não é surdo, por que não fala? Elaborou assim a quarta meta: “levá-lo ao uso da fala, determinado o exercício da imitação pela lei imperiosa da necessidade.”
quinta e última meta:
"exercitar durante algum tempo, a partir dos objetos de suas necessidades físicas, as mais
simples operações da mente e determinar em seguida sua aplicação aos objetos de instrução”.
Neste processo de Jean Itard houve rupturas, avanços e esquecimentos. Foi um trabalho árduo cheio de observações levantamento de hipóteses, experiências, de prazer, alegria e decepções tanto para o aluno quanto para o médico cientista.
Nesta caminhada Itard nos ensina que ao professor caberia a difícil tarefa de organizar os ambientes de aprendizagem, de proporcionar atividades favorecedoras de desenvolvimento, não só cognitivo, mas afetivo e comportamental, idéia que pode ser considerada bastante contemporânea.
COMPARAÇÃO DA HISTÓRIA DE VICTOR COM A DOS SURDOS
Não foi muito diferente o que Victor e os outros surdos do mundo passaram ou continuam a passar, como a rejeição pela sociedade, discriminação, não poder casar, serem tratados como inferiores, isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, viam os surdos como anormais ou doentes, poucos conheciam os surdos como cidadãos.
Desde a época de Victor até os dias atuais houve inúmeras conquistas na educação para os surdos, graças a seus esforços e esforços de bons profissionais.
Com a língua dos sinais conseguem se comunicar perfeitamente com qualquer pessoa que saiba a mesma.
Aprendi com esta reflexão que o trabalho de Itard abriu portas para o cuidado que devemos ter com pessoas com necessidades especiais e também sobre a relação professor-aluno, sobre a afetividade entre educador- educando para uma melhor aprendizagem e que cabe ao professor arrumar uma atmosfera para a aprendizagem.
REFERÊNCIA
RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
HUMANO: AS CONTRIBUIÇÕES DE JEAN MARC-GASPARD ITARD (1774-1838)
Aliciene Fusca Machado Cordeiro – UNIVILLE
Mitsuko Aparecida Makino Antunes – PUC-SP
Agência Financiadora: CAPES
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Um comentário:
Olá, Eliana:
Além do que colocaste, o relato sobre o filme me fez pensar como há determinadas pessoas (como a família de Victor) que não tem capacidade empática com o outro, talvez por nunca ter recebido carinho e atenção também.
Me dei conta que somos permeados pela cultura e por isso somos civilizados. Do contrário, seríamos como animais.
Outro aspecto que me chamou atenção foi que antigamente havia mais preconceito, portanto podemos perceber que este assunto melhora com o tempo.
Abraço, Anice.
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